Legoterapia – o uso do brinquedo de montar LEGO® como recurso terapêutico e ferramenta educacional

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Legoterapia – o uso do brinquedo de montar LEGO® como recurso terapêutico e ferramenta educacional

Facilitador: René Schubert

O brincar é uma atividade fundamental na infância, pois permite o desenvolvimento da imaginação, da criatividade e das habilidades motoras e emocionais. Entre os muitos brinquedos que oferecem essas possibilidades, o Lego se destaca pela versatilidade e potencial criativo, permitindo que as crianças experimentem um universo de construções e possibilidades. Através das peças de Lego, é possível explorar cenários, criar personagens e desenvolver narrativas, promovendo, assim, o desenvolvimento integral da criança. Este artigo aborda como o Lego, além de brinquedo, se torna uma ferramenta terapêutica valiosa na prática da ludoterapia, auxiliando tanto na avaliação psicológica quanto no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais das crianças.

 

  1. Histórico do Brinquedo Lego

O Lego foi criado na Dinamarca pelo marceneiro Ole Kirk Christiansen em 1934, com o nome “Leg Godt“, que significa “brincar bem” em dinamarquês. Em latim, o nome remete à expressão “Eu junto – Eu Uno”, destacando o conceito de união e construção. Diferente de outros brinquedos prontos, o Lego foi projetado para ser um sistema de brincar, com peças interligáveis que oferecem uma infinidade de combinações. Esse sistema permite a construção manual por encaixe, sem a necessidade de cola ou adesivos, desenvolvendo a imaginação, criatividade, coordenação motora, raciocínio lógico e noções de profundidade nas crianças. No final dos anos 90, o Lego consolidou-se como um dos brinquedos mais populares do mundo, e tanto crianças quanto adultos o utilizam em diversas atividades lúdicas e educativas.

  1. Lego na Ludoterapia e Psicodiagnóstico

Desde o início de minha prática clínica em 2001, observei o fascínio que as crianças demonstram pelo Lego. Ao explorarem as peças, as crianças experimentam o processo de construção e desconstrução, aprendendo sobre organização e resiliência. O brincar com Lego, além de auxiliar na expressão emocional, permite que as crianças criem personagens, estabeleçam conexões entre eles e nomeiem emoções e crenças, tornando-se uma ferramenta terapêutica rica (Schubert, 2022). Através do Lego, as crianças revelam como se vinculam, comunicam e interagem, demonstrando suas habilidades e desafios de forma lúdica e acessível.

  1. A Terapia Baseada em Lego

A terapia baseada em Lego foi introduzida pelo neuropsicólogo Daniel Legoff, que em 2004 publicou a primeira pesquisa sobre o uso do Lego na terapia com crianças. Em seu modelo “Club Lego”, Legoff reuniu crianças para que, em grupos, alcançassem objetivos comuns usando o Lego. Essa prática é amplamente aplicada com crianças diagnosticadas com transtorno do espectro autista, promovendo o desenvolvimento de habilidades sociais, autoestima e comunicação. Legoff demonstrou que o interesse natural das crianças pelo Lego facilita a motivação para engajamento terapêutico e a interação tanto com o terapeuta quanto com os pares. Em países como Austrália, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e na América Latina, estudos apontam a eficácia da terapia com Lego em contextos que vão desde o ambiente escolar até o hospitalar (Legoff, 2019).

  1. Lego como Ferramenta Terapêutica e Educacional

Pesquisas e práticas clínicas de diversos profissionais de saúde e educação reforçam os benefícios do brincar com Lego, especialmente para o desenvolvimento da linguagem, cognição, socialização e motricidade. Segundo Fonseca (2023), o Lego também estimula habilidades como a concentração, disciplina e capacidade de enfrentar frustrações. Connor Ward (2018), em seu canal no YouTube, descreve o Lego como um sistema com regras, onde tudo deve ser construído com paciência e organização, o que contribui para o desenvolvimento da resiliência nas crianças.

No Brasil, a psicóloga e psicopedagoga Karina Fonseca utiliza o Lego na terapia para crianças com diferentes condições, incluindo transtornos do espectro autista e TDAH, para estimular a comunicação e habilidades socioemocionais. Conforme Fonseca (2023), “A abordagem Lego Terapia baseia-se na ideia de que as crianças podem se comunicar e expressar seus sentimentos por meio da manipulação de peças, uma forma de expressão muitas vezes menos intimidadora do que a verbal”.

  1. Lego no Mundo Corporativo – Lego Serious Play

A Lego também desenvolveu o Lego Serious Play, LSP, um método aplicado no mundo corporativo para facilitar a comunicação e o trabalho em equipe. Desenvolvido na Dinamarca, o Lego Serious Play é utilizado em mais de 100 países, sendo aplicado em oficinas de design thinking, inovação, resolução de problemas, treinamento de equipes e simulação de situações. Por meio dessa metodologia, os blocos de Lego são usados para criar modelos tridimensionais que facilitam o desenvolvimento de estratégias e o compartilhamento de ideias de forma visual e interativa.

Considerações Finais

O uso do Lego como recurso terapêutico revela-se uma ferramenta poderosa, multifacetada e efetiva para promover o desenvolvimento emocional, cognitivo e social de crianças e jovens. Desde o início de minha prática clínica, em 2001, adotei o Lego como um recurso central no consultório, atendendo um grande número de crianças e jovens com essa modalidade. Os resultados observados ao longo dos anos têm sido amplamente positivos, incluindo:

  • Estabelecimento da vinculação terapêutica: o Lego facilita a criação de um vínculo seguro e de confiança entre terapeuta e cliente, essencial para a eficácia da terapia;
  • Nomeação e expressão de emoções: ao criar cenários e personagens, as crianças conseguem expressar suas emoções e dificuldades de maneira mais natural e lúdica;
  • Reconhecimento de dificuldades e percepção de diferentes contextos: o brincar com Lego permite que as crianças observem suas próprias limitações e como lidar com elas em diferentes contextos;
  • Motivação a partir de desafios: a flexibilidade e as infinitas possibilidades de construção com o Lego despertam a motivação para superar desafios e persistir nas atividades;
  • Desenvolvimento da atenção, memória e abstração: montar e imaginar novas construções requer atenção, memória e a habilidade de abstrair e criar;
  • Estimulação da psicomotricidade fina e percepção figura e fundo: o manuseio das peças de Lego contribui para o desenvolvimento motor e a compreensão das relações espaciais;
  • Contação de histórias e ampliação do vocabulário e referenciais culturais: o brincar com Lego proporciona oportunidades para a criação de histórias, promovendo a expressão verbal, a construção de narrativas e a ampliação de referenciais culturais.

 

Assim, o brinquedo de montar Lego se destaca como um instrumento lúdico-terapêutico robusto que, ao mesmo tempo em que diverte e engaja, oferece uma infinidade de possibilidades terapêuticas para o desenvolvimento integral da criança e do jovem, proporcionando uma transição mais tranquila, elucidativa, alegre e criativa do mundo infantil para a realidade adulta.

Referências Bibliográficas

  • A História do Lego. Publicado no YouTube em 2020. Acesso em Julho de 2025.: https://www.youtube.com/watch?v=Wih3NK2z_0I&t=83s
  • Schubert, R. – O uso do brinquedo de montar lego na ludoterapia com crianças e jovens. Apresentado no XXII International and XVII Nacional Congress of Clinical Psychology, e publicado no Advances in Clinical Psychology Vol. 4, Pagina 303, Editorial DYKINSON, November 2024, Madrid – Spain
  • Schubert, R. Conectando e Construindo Possibilidades – Brincar de Lego na Ludoterapia. In Orientação Familiar, Volume 3, Literare International Books, São Paulo, 2024
  • Schubert, R. Construindo Pontes, Cenários, Mundos de Possibilidades: O Uso do Lego como Recurso Terapêutico com Crianças. In Um Amor Azul – Os Desafios e os Caminhos para Lidar com a Pessoa Autista. Editora Conquista, São Paulo, 2023.

 

 

Metaforum Brasil – https://metaforumbrasil.com/

René Schubert – https://reneschubert.com.br/

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